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19 de novembro de 2006

Cabeça de Porco (e-book)

Um rapper, um empresário de hip-hop, e um antropólogo com passagem pela secretária nacional de Segurança Pública. O encontro - no mínimo – improvável acabou gerando um dos melhores e mais reveladores livros sobre violência e juventude já escritos no Brasil. MV Bill, autor de músicas como ‘Soldado do Morro’, Celso Athayde, criador do Prêmio Hutuz, o mais importante do hip-hop no país, e Luis Eduardo Soares, um dos maiores especialistas em conflitos urbanos na América do Sul, se encontraram pela primeira vez em 1999, logo após o lançamento do clipe de ‘Soldado do Morro’, que mostra imagens de jovens portando armas e vendendo drogas em bocas de fumo de várias cidades do Brasil.

MV Bill e Celso Athayde, nascidos na Cidade de Deus e Favela do Sapo, respectivamente, logo ficaram impressionados com a visão que Luis Eduardo tinha sobre o cotidiano nos morros do Rio. “Vi que a distância geográfica não impedia a aproximação ideológica. Me surpreendi com a sua visão sobre a violência. O fato de ele ter sido subsecretário de Segurança do Rio de Janeiro nunca fez dele um inimigo. Sempre quis que os chefes das polícias fossem parceiros da favela”, disse MV Bill, em entrevista recente.

Três anos e alguns encontros depois, os três selaram a parceria: escrever um livro sobre os jovens que se envolvem com o tráfico de drogas e violência armada organizada no Brasil. O resultado é ‘Cabeça de Porco’ (Editora Objetiva), lançado dia 30, no Rio de Janeiro. O livro mistura reflexões sobre a violência urbana e pesquisas etnográficas feitas durante sete anos por Luis Eduardo Soares, com depoimentos colhidos por Bill e Celso em pontos de venda de drogas em nove cidades do país.

As semelhanças entre as realidades vividas por jovens do Rio de Janeiro, onde estão as maiores facções de drogas, e cidades pequenas como Joinvile, na região Sul do país, são um dos maiores achados do estudo. Nos dois locais, os adolescentes têm o mesmo sistema de organização e estrutura hierárquica, além de usarem gírias praticamente iguais.

“As semelhanças entre essas cidades são as seguintes: meninos pobres, freqüentemente negros, são recrutados pelo tráfico, cada vez mais jovens. Nesse processo, que eles não controlam e mal conhecem, primeiro eles são vítimas, depois ocupam a posição de algozes; e finalmente, voltam a ser vítimas acabando os seus dias de forma precoce e cruel”, diz Luis Eduardo Soares, por e-mail, em entrevista exclusiva ao COAV.

Segundo os autores, o principal objetivo do livro é humanizar os jovens envolvidos no tráfico de drogas – sem, no entanto, tirar-lhes a responsabilidade por seus atos. E é justamente neste ponto que o livro tem seu maior mérito. Os relatos sobre famílias completamente desestruturadas e o desejo de deixar a vida do crime são uma constante.

“Eu não tinha necessidade de ficar na vida do crime. Eu queria o amor de uma tia, de uma mãe, isso eu nunca tive, o amor de uma família, que quando eu precisasse para conversar, ela estivesse lá, viesse conversar comigo”, diz um adolescente de 16 anos, logo após relatar seu primeiro esquartejamento. “Só dessa vez eu fiz uma coisa errada. Depois nunca mais, graça a Deus”.

Todas as entrevistas foram gravadas em vídeo e devem render até o final do ano um documentário – que seria a terceira etapa do projeto, que começou justamente com o clipe ‘Soldado do Morro’ (tanto MV Bill quanto Celso Athayde ainda respondem processo criminal pela divulgação das imagens).

Apesar do clima de impotência frente à realidade atual de mortes e violência no Brasil, Luis Eduardo Soares mantém a esperança e aposta em projetos de prevenção para diminuir o número de jovens envolvidos no tráfico de drogas.


“A repressão deveria ser o último recurso. Antes dela, há um mundo a construir na linha da prevenção, com reinserção, educação e valorização pessoal”, diz. “Nós queremos exterminar a juventude pobre ou queremos integrá-la?”.


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Créditos: Opus666

1 comentários:

Chillin disse...

perfeito livro..
muita pesquisa
realidade crua ai